Quarta-feira, 28 de Outubro de 2009

Definitivamente, há pessoas que não conseguem entender que o problema de uma comunidade não é saber até que ponto esta consegue chegar a uma norma que agrade às partes, mas ter um critério justo para essa norma. Um grupo de pessoas pode viver em comum e chegar a consensos sobre matérias que limitam a sua relação social e estabeleçam o que é a liberdade. Pode até, acaso não chegue a consensos, inventar (consensualmente ou não) que o maior número deve determinar as opções a serem legisladas. Mas dizer que isso significa que a constituição dessa comunidade terá necessariamente elementos de justiça, que a promovem e dela são reflexo, é uma perturbação ideológica de quem tem no seu sistema de crenças (no seu critério anterior) que o homem é tendencialmente bom, sem que do Bem tenha contudo qualquer ponto de referência que não seja a satisfação da vontade de um colectivo enquanto mescla das vontades individuais.

 

Este antropocentrismo, que projecta ideologicamente a virtude e a pensa assim como premissa universal, não acalenta mais do que justificar as escolhas do "querer". E se os indivíduos podem decidir que virtudes são essas, acabam também por permitir que todas as conclusões morais sejam válidas e aparentemente boas. Basta imaginarmos um bando de masoquistas que, vivendo em comunidade, têm como regra espancarem-se diariamente para atingirem a satisfação de uma necessidade. O facto do acordo ser unânime, ou maioritário, faz com que as suas condutas sejam justas, isto é, tendentes ao Bem? Podemos até considerar a contribuição dessas condutas para a paz social, mas há que perguntar primeiro que raio de paz vive da injustiça, ainda que ela seja resultado das "garantias necessárias à convivência".

 

É por isto que o catolicismo deve actuar nos palcos políticos. Negá-lo é remeter Jesus para uma sacristia que, nos últimos séculos, caiu na ratoeira de pregar mais o socialismo que o Decálogo. Haja quem liberte a Igreja da armadilha. Haja quem anuncie o Reinado Social de Cristo.



publicado por Afonso Miguel às 18:12 | link do post | comentar

2 comentários:
De Anónimo a 30 de Outubro de 2009 às 11:52
Muito bem. A questão simples que abordas implica uma questão simples de amor ao próximo. Onde o amor (quer o cívico, quer o erótico) é matéria de convenção entre as partes envolvidas, a satisfação das partes sobrevém à obtenção das finalidades. Assim, se uma das partes pretender algo, ao outro basta-lhe mentir. E enquanto essa pacificação do desejo se mantiver, tudo está numa forma perfeita, porque a finalidade está obtida.
Uma relação fundada na mentira...

Um grande abraço
O Corcunda


De Afonso Miguel a 30 de Outubro de 2009 às 18:58
Há ainda um problema, mesmo para aqueles que defendem que a norma da comunidade deve ter uma matriz católica: saber se a querem por a considerarem eficaz face á modernidade (satisfação de uma necessidade de ordem) ou porque lhe reconhecem, antes de mais, um caminho comunitário para o Bem. Penso que é aqui que muitas vezes se delimita a fronteira entre um conservadorismo das tradições, e um tradicionalismo que pretende conservar algo específico, isto é, que tem uma finalidade objectiva.

Obrigado pelo comentário,
Abraço


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