É um exercício praticamente desconhecido nas redacções ou em meios ideologicamente condicionados. E embora os media tenham uma acção viral e pouco ou nada haja a fazer contra os efeitos pretendidos, fica um modesta contribuição de quem ousa, ao menos, tentar. Comentários a negrito.
Bento XVI:
«Pode haver casos pontuais, justificados, como por exemplo a utilização do preservativo por um prostituto, em que a utilização do preservativo possa ser um primeiro passo para a moralização (mas não a solução moral definitiva, mantendo-se assim como prática moralmente reprovável por si só, mesmo que inserida neste contexto), uma primeira parcela de responsabilidade para voltar a desenvolver a consciência de que nem tudo é permitido e que não se pode fazer tudo o que se quer. Não é, contudo, a forma apropriada para controlar o mal causado pela infecção por HIV. Essa tem, realmente, de residir na humanização da sexualidade.
Quer isso dizer que, em princípio, a Igreja Católica não é contra a utilização de preservativos?
É evidente que ela não a considera uma solução verdadeira e moral (ou seja, é contra). Num ou noutro caso, embora seja utilizado para diminuir o risco de contágio, o preservativo pode ser um primeiro passo na direcção de uma sexualidade vivida de outro modo, mais humana (mas não é em si essa forma "mais humana" ou moralmente aceitável de viver a sexualidade).»
In Bento XVI, Luz do Mundo – O Papa, a Igreja e os Sinais dos Tempos – Uma conversa com Peter Seewald, Lucerna, 2010
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No fundo, o Papa constata que, em determinados casos, as soluções inadequadas e erradas do mundo podem conduzir a uma melhor percepção da necessidade de correcção moral da sexualidade, tendo em perspectiva a conversão. Não é, de facto, o mesmo que forçosamente defender essas soluções como inevitáveis e aceitáveis à luz da Doutrina. O mesmo se dirá de quem rouba para comer: nada justifica moralmente um acto que é, para todos os efeitos, objectivamente imoral, e não constitui solução definitiva e aceitável para a pobreza, ainda que uma necessidade material nos conduza momentaneamente a cometer esse acto reprovável, justificando-o (no sentido em que o motiva) mas não o desculpabilizando.
Nota da Sala de Imprensa da Santa Sé:
«Neste caso, o Papa não justifica moralmente o exercício desordenado da sexualidade (ou seja, o uso do preservativo faz parte do exercício desordenado e pecaminoso da sexualidade, mesmo em "casos pontuais"), mas sustenta que o uso de uma camisinha a fim de diminuir o risco de infecção é "uma primeira hipótese de responsabilidade" (mas não um acto moralmente responsável por si só, como se fosse a única alternativa)»
Portanto, embora o comunicado não seja propriamente esclarecedor e o Santo Padre se tenha posto muito a jeito, jamais Bento XVI afirmou que se pode usar preservativo em determinados casos, à luz da tradição moral da Igreja. Admitiu sim que, em situações extremas, como a da prostituição, o seu uso poderá significar uma abertura a uma solução que acabará por rejeita-lo definitivamente: fidelidade ou abstinência.
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Te igitur, clementissime Pater